reflexões de quem trabalha numa livraria.
Gosto de trabalhar no meio dos livros. Gosto de os recomendar. E de trocar opiniões sobre eles. Gosto de falar sobre eles e com eles. Mas gosto especialmente quando alguém regressa para me dizer que gosto do livro que levou. Ou quando alguém me oferece um livro só porque sim.
Gosto de trabalhar no meio dos livros. Porque descubro novos títulos, todos os dias. Porque descobri um novo amor, pelos livros infantis e pela mensagem que muitos deles transmitem. As fábulas recortadas são qualquer coisa de extraordinário. E as enciclopédias sobre a natureza? Pois é. A verdade é que a minha pequena biblioteca engloba todos os géneros literários, com recomendações para qualquer idade.
Gosto de trabalhar no meio dos livros. Mas não gosto de o fazer, todos os dias. Porque é pesado, física e psicologicamente. Porque as pessoas não são educadas e tão pouco têm respeito pelo trabalho dos outros. Salvo raras exceções. Somos conhecedores de um amplo mercado, mas não temos obrigação de conhecer todos os títulos do mercado. Se é apenas para ver, não nos façam percorrer 20 estantes em armazém para o encontrar. E também não custa assim tanto arrumar o livro no sítio de onde se tirou. Acho que fazem o mesmo em casa. Porque um dicionário não é um romance.
Gosto de trabalhar no meio dos livros. Mas faz-me espécie quando me perguntam se vendo jornais. Uma livraria não é uma papelaria. Já basta o material de marketing relacionado com cadernos e caderninhos. Não vendemos jornais, e revistas só a nossa revista literária. Não somos uma papelaria e muito menos uma sala de convívio. Nem sequer um parque infantil. Noção procura-se.
Gosto de trabalhar no meio dos livros. Porque é o reconhecimento das raras pessoas que nos visitam, que nos torna melhores livreiros e nos faz acreditar que, no fim, até conseguimos fazer mais do que vender apenas livros. Até conseguimos arrancar sorrisos a pessoas que, habitualmente, e no início, eram carrancudas. Isto é a melhor recompensa.
beijinhos **